Você sabia que cão também pode ter problema cardíaco?

Estudos apontam que as cardiopatias representam cerca de 11% das enfermidades apresentadas por cães, sendo que na maioria dos casos possuem caráter adquirido, ou seja, desenvolvem com a idade. Assim, raramente são congênitas, ou seja, o animal já nasce com problemas cardíacos.

Dentre as cardiopatias adquiridas, a doença valvar crônica ou endocardiose valvar mitral é a mais corriqueira. Ela está relacionada com a idade, sendo mais comum em cachorros entre 8 e 11 anos, e tem maior incidência em cães de pequeno porte (que pesam menos que 20 kg). Entre as raças mais afetadas estão o Pequinês, Dachshund, Poodle, Shih Tzu, Cocker Spaniel, Cavalier King Charles Spaniel e os toys em geral. O Dobermann é o único cão de raça grande, no qual se observa maior risco.

A causa dessa doença é desconhecida, mas trata-se de um desgaste do tecido, principalmente da valva mitral e menos frequentemente da valva tricúspide, que são estruturas que separam as câmaras cardíacas agindo como direcionadoras e permitindo a passagem do sangue, prevenindo que ele volte (regurgite). Essa alteração pode estar ligada à herança genética, sendo uma doença provavelmente hereditária.

Outra doença também presente é a Cardiomiopatia dilatada, caracterizada pela diminuição da força de contração do músculo cardíaco. Acomete principalmente cães de meia idade, machos e de raças grandes e gigantes como Dinamarquês, Dobermann, São Bernardo, Deerhound escocês, Cão de Caça Irlandês, Terra Nova, Afgan Hound, Dálmata, Boxer e Old English Sheepdog. O Cocker Spaniel é comumente afetado, embora seja de uma raça de porte menor.

Alterações no ritmo cardíaco podem estar associadas às doenças acima citadas, ou aparecerem como doença principal. A arritmia cardíaca ocorre quando há alteração na frequência, ritmo, local de origem e/ou sequência normal de condução do impulso elétrico.

Sintomas que mostram o perigo

Capacidade diminuída para exercícios, cansaço, tosse e animal ofegante durante esforço, são queixas iniciais comuns dos tutores. Algumas vezes, inclusive, é possível observar que o animal tem dificuldade respiratória, cansa-se rápido e que a língua adquire uma coloração azulada (cianose) e, nos casos mais avançados, ruídos respiratórios podem ser percebidos.

A tosse é a manifestação clínica mais comum, podendo ter episódios preferencialmente à noite e pela manhã, assim como durante períodos de atividade. Em casos mais avançados da doença, o animal pode desenvolver edema pulmonar, também conhecido como água no pulmão, o que causará grave estresse respiratório, frequentemente com tosse e posição de angústia respiratória. Os sinais de edema pulmonar grave podem desenvolver-se gradualmente ou agudamente. Episódios intermitentes de edema pulmonar, com os sinais descritos acima, e períodos sem manifestações de sintomas são comuns quando a doença está controlada, podendo ocorrer por meses ou até anos.

Quando ocorre edema pulmonar, o cão fica mais ativo, caminha o tempo inteiro e não se deita para dormir. Isso acontece porque um animal com insuficiência cardíaca, acompanhada de edema pulmonar, busca posição que lhe permita respirar melhor. Por isso, evita ficar deitado para não se sentir “asfixiado”. Com frequência, esses cães apresentam diferentes graus de perda de apetite, e com isso perda de peso. Um falso ganho de peso pode acontecer quando se tem o abdome inchado por líquido devido à doença; o animal pode ter a aparência de barrigudo. Episódios de fraqueza transitória ou desmaios também podem ocorrer.

Tratamento e diagnóstico

Para se ter um diagnóstico vários fatores devem ser analisados, desde os dados básicos do paciente (principalmente raça e idade dentro das mais comuns para a doença), exame físico do animal, exames de sangue, pressão arterial, eletrocardiograma, radiografia do tórax e ecodopplercardiograma.

O tratamento ideal deveria interromper a progressão da doença, podendo incluir a correção cirúrgica ou a substituição da valva, levando à melhora da função cardíaca. Entretanto, nenhum tratamento está disponível atualmente para impedir ou prevenir a evolução, e a cirurgia raramente tem sido tecnicamente possível em cães. As lesões são irreversíveis e, sendo assim, a terapia tem como objetivo o controle das manifestações clínicas por meio de suporte com medicamentos. Pode-se utilizar de diuréticos, vasodilatadores, agentes que aumentem a força da contração cardíaca, medicações específicas para o pulmão, inibidores da tosse e mudança na alimentação.

Vida normal?

O prognóstico em cães com cardiopatias após tornarem-se sintomáticos é muito variável. Quando o problema é insuficiência cardíaca, o diagnóstico e tratamento precoces podem fazer diferença na saúde e qualidade de vida do animal. Alguns estudos mostram medicações que ajudam a aumentar e melhorar a sobrevida do paciente cardiopata.

Muitos cães podem apresentar sintomas intermitentes, como tosse e dificuldade respiratória, que devem ser acompanhados pelo Veterinário, como não é possível impedir a evolução da doença, as medicações deverão sempre ser reajustadas conforme a evolução do quadro e aparecimento de novos sintomas.

Em alguns cães é necessário restrições relacionadas com a alimentação, que deve ter baixa quantidade de sal, e exercícios exagerados, o ideal é sempre respeitar o limite do animal, principalmente se sintomas estiverem presentes.

Portanto, é importante observar as manifestações clínicas que podem ocorrer e sempre procurar um clínico veterinário para que o diagnóstico diferencial seja realizado com eficácia, pois muitas outras doenças, principalmente respiratórias, podem apresentar os mesmos sintomas.